[RP fechada] - O carneiro e o pégaso

O cantarolar dos pássaros e as vozes infantis pelos quatro cantos da vila de Rodorio indicavam o momento de paz que aquele pequeno local vivia. Foram tempos difíceis para aqueles pobres cidadãos quando as forças de Hades subiram ao mundo dos vivos em busca de guerra. Adelheid soube por alto sobre alguns dos problemas que a população viveu, afinal, enquanto Atena e seus cavaleiros guerreavam contra o deus do submundo e seus espectros, a guerreira da Germânia - que com o passar dos anos passou a ser chamada de Alemanha, algo complexo para a amazona - estava lutando contra o Império romano e suas garras, libertando as tribos germânicas das legiões comandadas por diferentes imperadores, mas independente desses fatores, a vontade da loira de conhecer o vilarejo que situava-se ao redor do Santuário era grande.

O clima agradável favorecia Adelheid de vestir-se confortavelmente. Mesmo que fosse "nova" naquele tempo, já havia tomado ciência de algumas coisas e aprendido algumas tecnologias diferenciadas. Sair da primeira casa trajando a sua armadura sagrada de ouro não acarretaria problemas, mas olhares recairiam sobre ela - a princípio, de admiração, esperava a ariana - e não era algo que ela possuía vontade. Utilizando apenas um vestido azul que chegava um pouco acima de seu joelho, a mulher partiu em direção ao vilarejo, amarrando seus cabelos em um coque com um laço tão azulado quanto a sua roupa. Apenas duas mechas, uma de cada lado, caiam contornando o seu rosto angelical.

O vento naquela pequena vila soprava, carregando consigo o aroma agradável de comida no fogo. Estava próximo do horário do almoço, e aquilo indicava trabalho pesado nos poucos restaurantes locais. Algumas crianças passavam pela amazona, correndo pelas ruelas. Algumas esquinas distantes, alguns homens já em idade considerável, provavelmente com seus cinquenta a sessenta anos, estavam claramente alcoolizados, cambaleando na calçada enquanto gargalhavam por algum motivo aleatório. Adelheid, com uma expressão de poucos amigos, passou pelos bêbados que não deixaram de notar a mulher.

— A-aí sim hein princesa! — A voz arrastada parecia embolar na língua, mostrando a dificuldade dos homens em dialogar.
A amazona de Áries fulminou os três com os olhos, mas esses pareceram não ligar, talvez por conta do álcool que estava impregnado no organismo.
"Deixa pra lá... são só bêbados." Bufou, continuando em seu caminho pela pequena vila. Uma feira de orgânicos parecia estar acontecendo, e era lá que estava a maior parte das pessoas de Rodorio. Enfiando-se no meio da multidão, a defensora de Atena chegou em uma pequena barraca que vendia algumas frutas e outros legumes, todos advindos da agricultura da região. Apanhou um tomate belíssimo, tão vermelho quanto as bandeiras do império romano, aquelas que ela tanto rasgou. Algumas gotas de água indicava que havia acabado de ser limpo e que estavam frescos.
— É uma bela fruta, senhora! — Sorriu para a vendedora, passando então a analisar outros frutos daquela mesma barraca.

Adelheid ainda mantinha-se entretida com os frutos distribuídos na barraca, desligando-se do mundo a sua volta. Uma conversa saudável se iniciava ali entre as duas mulheres. Tudo aconteceu em questão de segundos; a ariana mal teve a capacidade de raciocinar quando virou-se de supetão para trás.

Um daqueles homens embriagados que antes havia cortejado a mulher encontrava-se estatelado em meio aos destroços de uma parede de madeira pela qual havia sido chutado contra. A sua frente, a alguns metros, uma figura feminina alta, trajando roupas masculinas. De imediato, com os neurônios voltando a funcionar, Adelheid percebeu que aquela garota que não aparentava ter mais do que 16 anos havia provocado toda aquela situação.

"Que força... essa não é uma força de um humano comum." Concluiu de prontidão a amazona de ouro, pensativa. Em conjunto com a pequena multidão que se amontoava ali, assistiu ainda a jovem discutir com aqueles três homens,e pôde ainda ouvir alguns camponeses conversarem entre si.

— É ela... — Uma mulher, não aparentando ter mais do que 50 anos e com um corpo robusto cochichava com uma outra mulher esguia. — De novo arrumando confusão.
— Ela não gosta mesmo de ver nada de errado... está melhor do que os vigilantes, se quer saber. — Ambas pareciam concordar, o que indicava que aquela figura ali era pelo menos famosa na região do vilarejo.

Mesmo estando a pouco tempo no Santuário, a germânica já conseguia reconhecer alguns rostos dentre as centenas de pessoas que treinavam ali naquele local; alguns santos de bronze, um número maior de prata, uma infinidade de aspirantes e os seus companheiros de ouro, mas aquela figura jamais fora vista pela mulher. Seria ela um santo de Atena?

"Eu nunca a vi no Santuário, nem no Coliseu... que estranho." Suspirou, tentando aceitar a ideia de que seria aquela garota apenas uma cidadã com uma força além do normal. Poderia ser uma futura amazona, mas não continuou com seus pensamentos.

A garota, após afugentar os três bêbados, pegou alguns objetos do chão e de longe Adelheid conseguiu notar algo que era seu; uma bolsa minúscula, onde continha algumas cédulas de dinheiro. Revelou-se um pouco surpresa; aqueles homens, embora bêbados, por pouco teriam de fato roubado a defensora de Atena.

A garota, deveras alta, agarrou o objeto, entregando a Adelheid. A mulher, com um sorriso simpático no rosto, apanhou a sua bolsa, guardando-a de volta no bolso de seu vestido.
— Muito obrigada! Se não fosse por você, iria voltar sem a minha comida. — Apertou a mão da jovem garota, sentindo o calor que ela emanava; o fogo da juventude. — Como é o seu nome? Estou apta a lhe recompensar de alguma forma. — Olhou para um bar e restaurante, e logo uma ideia se iluminou em sua cabeça. — Bom, eu poderia te chamar para tomar um drink, mas acho que não tens idade para o álcool, correto? Um suco cairia bem para você? — Queria entender mais sobre aquela figura carismática, de onde vinha sua força e quem ela era, de fato.